sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mais que um título é preciso um projeto de continuidade

Luis Henrique de Sá Perles.

A cidade de Maringá vive um momento histórico, após 33 anos o município voltou a ter um representante em uma final de campeonato paranaense. E para alegria de torcedores, dirigentes e imprensa, a decisão de 1981 foi repetida, novamente um clássico entre as cidades, Maringá x Londrina, desta vez com o Maringá Futebol Clube substituindo o Grêmio no confronto decisivo.

Porém, os clássicos acirrados e a campanha da equipe de Maringá, não são os temas que gostaria de abordar neste texto opinativo. Mais sim a fragilidade estrutural do interior que mostra, por meio da história, como o campeão de hoje pode ser o rebaixado de amanhã.

Santo André, São Caetano, e os próprios exemplos domésticos, como o Grêmio de Maringá (tanto o esportivo como o de esportes) e o Galo Adap, dentre outros são algumas equipes que chegaram ao seu auge, disputaram grandes competições, mas caíram no ostracismo e se tornaram meras lembranças de sucesso.

E em Maringá corremos este risco. O trabalho realizado pela diretoria do MFC é louvável, porém, o sucesso muitas vezes atrapalha o caminho da humildade e aí mora o problema. Interesses e egos crescem demais ocultando a sabedoria e discernimento de certos dirigentes. É preciso calma e muita tranquilidade para não cair no oba-oba criado pela torcida e pela mídia.

Da mesma forma que o sucesso foi rápido a queda pode ser. E para evitar isto é preciso ainda mais planejamento e trabalho, a hora de fortalecer o futebol da cidade é esta. Aproveitar o barulho desta decisão e se estruturar através de parceiros, olhar para a categoria de base que disputa o estadual sub-18 e disputará o sub-20, observar jogadores Brasil a fora, afim de repor as perdas que sem dúvida acontecerão.

A cidade em quase toda sua história teve problemas com seus dirigentes, investiu demais, perdeu dinheiro, atrasou salários e caiu em descrédito a cada fracasso. Na atual diretoria do Maringá Futebol Clube tudo foi muito bem conduzido e mesmo nos piores momentos como em 2012, quando o time quase caiu para a terceira divisão, os compromissos foram honrados. Esperamos que seja assim no futuro.

Para a Série D e a sequência deste projeto é preciso ainda mais organização, trabalho duro e observar muito o futebol nacional para descobrir novas pérolas como Gabriel Barcos, Cristiano e Reginaldo, por que é assim que a o futebol do interior vive, revelar, vender e aos poucos ir criando uma estrutura. E se o projeto do Maringá Futebol Clube deseja não ser apenas meteórico como o do Galo/Adap, por exemplo, é necessário ainda mais organização. E maior que uma conquista estadual, será a continuidade de um trabalho honesto e projetado para o futuro.

Alguns exemplos de equipes do interior vitoriosas, mas que caíram no esquecimento:

Santo André: Em 2004, a equipe do ABC paulista atingiu seu ápice, foi campeão da Copa do Brasil e no ano seguinte disputou a Copa Libertadores, não passando para a segunda fase. Em 2009 disputou a primeira divisão nacional, mas foi rebaixado sendo em 2010 vice-campeão paulista, perdendo a final para o Santos, porém no mesmo ano caiu para a Série C e posteriormente a D em 2012 (mesmo ano que foi rebaixado para a Série A2). Atualmente luta para voltar a primeira divisão paulista.

São Caetano: Foi considerado a grande sensação do futebol nacional nos anos 2000, a equipe chegou as finais do Brasileiro de 00 e 01 e um ano depois da Libertadores. Em 2004 foi campeão paulista, mas depois da trágica morte do zagueiro Serginho, em jogo contra o São Paulo no estádio do Morumbi, o time foi perdendo sua força e condições financeiras, sendo rebaixado para a segunda divisão nacional em 2007, após ser vice-campeão paulista. Em 2013 caiu para segundona do estadual, foi rebaixado também para a terceira divisão nacional e atualmente luta para não cair a Série A-3 paulista (Terceira divisão).

Grêmio Maringá: Campeão estadual em 63 e 64 e da Copa dos Campeões em 1969, a equipe faliu dois anos depois, ficando apenas na memória do torcedor mais antigo da cidade. Posteriormente surgiu o Grêmio de Esportes Maringá campeão em 77, vice em 1981, mas que em 1996 abandou o futebol profissional.
Em 1998, o Grêmio Esportivo voltou, disputou a Copa Sul Minas em 2000 e o Paranaense da Série A em 2002, sendo vice campeão do interior o que lhe rendeu vaga a Série C, mas sem sucesso neste torneio a equipe caiu em 2004 a segunda divisão estadual.  Desde então padece com campanhas ruins na segunda e terceira divisão sendo comandado atualmente por um grupo de empresários paulistas que trouxeram o ex-jogador Müller para o comando técnico.

Galo Adap: Surgiu como um projeto promissor alcançando a primeira divisão estadual no primeiro ano de vida e a Copa do Brasil após parceria com a Adap de Campo Mourão em 2006. Porém, os altos gastos da diretoria em especial com a disputa da Copa Paraná em 2007 fizeram a equipe ir a falência e desistir da vaga na primeira divisão estadual em 2009
.